domingo, novembro 23, 2008

A boneca de trapos


Pousada no canto da estante,
Sozinha, esquecida no fundo do quarto
Escondia o rosto cansado por entre os braços,
Deixava correr as lágrimas pelo seu regaço,
Cada pedaço de vidro que rolava pelo rosto
Marcava uma só dor, um só desgosto…

Desistira á muito de tentar ser forte,
Deixara cair as muralhas e agora,
Em seu torno erguiam-se apenas velhas ruínas,
Do que um dia fora o seu castelo.
Perdera aquele brilho de boneca nova,
A pele, antes pálida, era agora cinzenta
O cabelo de lã, antes luzidio,
Antes atado com fios de seda
Era agora um simples nó de fios embaralhados
Cordões de lã velha, entrelaçados.

Tudo parecia ruir a sua volta,
E ela, triste boneca, cedia aos poucos ao cansaço
Os olhos antes de azul cintilante,
Eram agora de um cinzento baço.
O vestido, vermelho carmim,
Era um pedaço de pano desbotado,
Um escarlate velho deslavado.

As pernas, de há muito estarem cruzadas,
Perdidas no canto da estante

Tinham algumas das costuras soltas,
Vários remendos coloridos
Tapavam as partes rotas,
As cicatrizes das brincadeiras da menina marota.
Com quem a boneca brincava enquanto garota.

Partilhavam os sonhos,
Contidos no olhar doce de criança,
Cheio de magia e esperança.
Há muito que o tempo tinha levado esse olhar.
Os sonhos eram agora disparates,
Quimeras impossíveis de alcançar.
E a boneca era apenas um pedaço de pano,
Um simples objecto para enfeitar.

Também ela há muito que desistira de sonhar
Perdera a vontade de viver,
E a magia que pintava o seu olhar.


(este texto antecede, o texto " O sonho da boneca de trapos")

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