domingo, março 01, 2009
Tempestade
Sinto a tempestade aproximar-se…
Consigo senti-la no calor húmido do ar,
Na poeira que se ergue do chão e, devagar,
Pinta de cinzento, o azul do céu.
Vejo as ondas revoltas do mar,
Devorar aos poucos,
As pegadas que deixei na areia,
Vejo sem nada poder fazer
O mapa de regresso a casa, desaparecer.
Sinto o vento empurrar o meu corpo,
E como se fosse um peso morto,
Levar-me, contra a minha vontade,
Empurrar-me, para o centro da tempestade.
Descalço os sapatos,
Dispo o casaco,
Afasto as madeixas soltas de cabelo,
Que me pintam o olhar,
Respiro fundo e,
Começo a caminhar,
Cada vez mais depressa,
Corro com toda a minha força,
Rumo ao que resta do mundo.
Oiço ruídos distantes,
Sinto nos ouvidos,
O rufar de mil tambores,
De mil homens enfurecidos,
O chão desfaz-se grão a grão,
Sob a força dos pés descalços,
O pó solta-se, voa,
De encontro ao furacão,
Continuo a correr…
Finjo não ouvir,
O som das coisas a partir,
Com o passar revolto vento,
O cantar das sombras,
Que enegrece o meu pensamento,
E me congela o sangue nas veias.
Continuo…
Finjo não ver,
Os destroços soltos pelo ar,
Os pedaços de chão,
Que começam a faltar.
Continuo a correr…
Continuo a correr,
Sem olhar para trás,
Fujo da escuridão que me segue,
Rumo ao horizonte distante,
Que gravo no meu olhar,
E que pinto de olhos fechados,
Acreditando sem duvidar.
Quase sem forças para respirar,
Continuo a lutar,
Mesmo cansada,
De alma apagada,
Não me deixo afundar…
Sinto a tempestade aproximar-se…
Sinto a tempestade…
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