Ser poeta è ter um dom.
O poeta não se conta a si mesmo.
Nem precisa que o façam.
Dá-se a conhecer nas entrelinhas,
Escondidas nos seus versos.
Não se mostra, diz o que é, quem é ou como è…
Não se revela a si.
Pinta-se nas suas expressões,
Nas suas frases,
E dá a conhecer pouco a pouco, a cada estrofe,
A sua uma e mais mil faces.
Desenha nas palavras,
A complexidade dos seus egos e,
A multiplicidade dos seus reflexos.
Como se de um espelho partido se trata-se.
O poeta não tem horizonte.
Não segue o mesmo destino dos plebeus
Quem sonha de olhos abertos,
Perde-se por entre caminhos,
E os trilhos por ele traçados,
Vedados aos comuns mortais, apenas seus.
O poeta tem o direito ao seu próprio norte…
Ser poeta è ter um dom.
Ser poeta è ser soberano,
De um dom mal fadado.
Uma dádiva que se torna defeito.
Um mal que lhe corrói o peito.
O poeta vive incompleto até perecer.
È corpo à procura de fragmentos de uma alma,
Inacabada, que de tanto querer engrandecer,
Acaba por se sentir um nada.
O poeta vive numa procura, sem fim, da melodia perfeita,
A melodia da plena comunhão.
Entre a música nos seus ouvidos,
E o silêncio no seu coração.
Mas coração de poeta grita a cada segundo
Porque poeta que é poeta,
Tem sempre nos ombros,
O peso do mundo.
E o silêncio à sua volta…
De tão ensurdecedor, sufoca,
Porque poeta que è poeta,
Alimenta-se da inquietude e da angústia.
Que se esconde no vazio,
Como um bicho amedrontado na sua toca.
Ser poeta é viver com um sabor amargo,
Impregnado nos lábios.
Por que a folha de papel,
Satisfaz-se mais depressa
Quando a boca è temperada com fel.
Porque a poeta que é poeta,
A amargura sabe a mel.
Ser poeta è não descansar,
À procura da melodia perfeita,
À procura da palavra certa,
À procura do verso rematado,
À procura de pedaço perdido,
Ou do pedaço mal colado...
Ser poeta...Ser poeta...
Ser poeta è ter um dom...
Um dom mal fadado.
Um rico desgraçado...